Vi este filme há uns seis meses. Saí boquiaberta ou stoned, como dizem os americanos. O longa é baseado em um livro que se tornou sucesso na Europa e virou filme na França. "Le Scaphandre et le papillon" conta a história do poderoso editor da Elle francesa, Jean Dominique Bauby (1952-97), que aos 43 anos, sofreu um derrame que o paralisou quase que totalmente, deixando movimentos apenas no olho esquerdo. Mesmo assim, Bauby escreveu sua vida.
A princípio, as imagens são embaçadas e confusas, o que torna a projeção cansativa. Não desista, continue assistindo... Demora um pouco para a gente entender que a idéia do diretor Julian Schnabel (coisa de filme francês) é mostrar o mundo através dos olhos do protagonista. Até o acidente, o nosso personagem, vivido magistralmente pelo ator Mathieu Amalric, é um legítimo bon vivant, com todas as benesses e prejuízos que este estigma possa significar: bonito, rico, mulherengo, pai ausente, filho displicente, um tanto ingrato, incrédulo e hedonista.
Após a tragédia, ele se vê prisioneiro do próprio corpo, daí o porquê do escafandro do título. O mais incrível e, talvez doloroso, é que ele está 100% consciente. Dá arrepios só de imaginar.
O grande mérito do diretor e do próprio Jean-Do, como ele era conhecido, é colocar beleza na feiúra que se instaurou em sua vida, a começar pelo seu próprio físico. O filme começa com o protagonista já no hospital e mostra flash backs da vida dele, o que nos ajuda a descortinar sua trajetória. O ponto alto da película, na minha opinião, é o lindo trabalho da junta médica, composta por super competentes fonoaudiólogas (atrizes lindiiíssimas, o que pode ser um estímulo para os homens assistirem ao filme...risos) que consegue desenvolver um método para que Jean-Do volte a se comunicar com o mundo. Uma plaquinha com o alfabeto fica na sua frente. Quando a letra que ele vê é a certa, ele pisca uma vez. Quando é a errada, ele pisca duas vezes. Desta forma, ele ditou seu livro para uma jovem e paciente jornalista.
Jean-Do, morreu três dias após a publicação do livro, em março de 1997. Provou ao mundo que a ausência de movimentos e da fala não são impedimentos para a vida.
Vale ressaltar que ele passa por todos os sintomas típicos de um doente terminal: raiva, ódio e vontade de se matar. Mas se transforma, eis o porquê da borboleta do título. Tenta recuperar o amor de seus filhos, a admiração do pai e começa a acreditar que a vida, em qualquer instância, vale a pena. Torna-se até um pouco crédulo, porque aceita participar - meio à força, diga-se de passagem - de uma peregrinação à Lourdes, levado por uma de suas fonoaudiólogas, católica fervorosa. Mas no meio da procissão, ele acaba gostando e, quem sabe, até acreditando em Deus e na fé...
Emocionante e real.
Emocionante e real.
Quem não viu, precisa ver. E se puder, ler também o livro. Ideal pra quem está meio descrente da vida. "A vida é bela como as borboletas!"